Ao findar o século XVIII, o tecido urbano da pequena cidade colonial estendia-se apenas da Rua Direita, atual Rua Primeiro de Março, até as imediações do Campo de Santana, atual Praça da República. Para além do Campo de São Domingos, atual Praça Tiradentes, os terrenos eram pantanosos e alagadiços. Os Campos de Santana e da Lampadosa, atual Largo de São Francisco, já haviam sido aterrados.
As ruas eram estreitas, de terra ou mal calçadas, com lajes de pedra ou com pé-de-moleque. As casas coladas umas às outras eram térreas ou tinham um ou dois andares. Havia igrejas e edificações públicas. Entre muitas construções setecentistas, que hoje fazem parte do Patrimônio Histórico do Rio, achavam-se erguidas as Igrejas de Nossa Senhora da Glória, da Lapa do Desterro, da Conceição da Boa Morte, da Saúde, de Santa Luzia, de Santa Rita, de São Francisco da Prainha e tantas outras, assim como entre outras edificações públicas, o Palácio Episcopal, os Quartéis de Infantaria, de Artilharia e de Cavalaria, o Estaleiro e a Alfândega. O mau cheiro no centro urbano era insuportável. Havia algumas chácaras longe do centro da cidade. Mais distantes do núcleo urbano colonial, achavam-se áreas agrícolas e de pecuária.
Um levantamento realizado pelo Conde de Resende, de 1790 a 1801, aponta que a população da cidade era de 43.376 habitantes, com 28.390 livres e 14.986 escravos, isso sem contar com as tropas. Era a cidade mais populosa do Brasil. Como a própria paisagem da cidade, também a sociedade e a vida nas ruas denotavam características inteiramente diversas das que se formariam ao longo do século XIX.
Dessa época, escreve Luiz Edmundo: “Na rua movimentada e alegre, coalhada de negros, de padres e mendigos, estão as lojas dos mercadores da cidade. São casas de vender panos, de vender breu e de vender estopa, estanques onde se merca o tabaco, seringueiros, barbearias, chapelarias, tabernas, farmácias, armazéns de surradores de couro…”
Independente dos melhoramentos promovidos no período dos vice-reis, numerosos eram os descontentes perante as determinações da metrópole de coibir toda e qualquer iniciativa que pudesse concorrer com a economia do reino. Tal situação, contudo, viria por fim, transformar-se com a vinda do Regente Dom João para o Brasil.
Referências iconográficas:
(1)
Rio de Janeiro de Castella
Desenho Alfred Martinet
Litografia e aquarela e lápis de cor, 1852
Acervo Instituto Moreira Salles – Brasil
(2) Rio de Janeiro Catette e entrada da barra
Desenho Alfred Martinet
Litografia, aquarela e lápis de cor, 1852
Acervo Instituto Moreira Salles – Brasil