O Rei Henrique II de França, admirado com a bravura e disposição de Nicolas Durand de Villegagnon, cavaleiro da Ordem de Malta, resolve autorizá-lo fundar, com o apoio do Almirante Coligny, uma colônia francesa na Guanabara – a França Antártica – ideia, aliás, apresentada ao rei pelo próprio Villegagnon.
Em 10 de novembro de 1555, sob o comando de Villegagnon, os franceses ingressam na Baía de Guanabara. Eles conquistam a amizade dos índios Tamoios e constroem o Forte Coligny, na Ilha de Serigipe, depois chamada Ilha de Villegagnon. Nessa ocasião, Villegagnon tentou instalar alguma artilharia na ilhota de pedra que se situava justamente na entrada da Baía de Guanabara. O empreendimento foi malogrado e a ilhota ganhou o nome de Ratier, chamando-se, depois, Ilha da Laje. Além do forte na Ilha de Serigipe, os franceses construíram na praia, diante da ilha, a Henryville – um assentamento rústico que viria tornar-se o embrião da povoação francesa.
Nessa expedição, Villegagnon trouxe dois padres beneditinos e um frei franciscano, André Thévet, autor de importante relato sobre essas paragens – obra intitulada Singularitez de la France Antarctique, autrement nommée Amerique…, datada de 1558. Thévet recebeu do rei da França o privilégio de ver sua obra editada e ilustrada com dezenas de xilogravuras desenhadas pelo próprio frei.
Vieram também com Villegagnon, pastores calvinistas, entre eles, Jean de Lery, que tendo vivido com índios, escreveu, a partir de suas anotações diárias, a obra Histoire d’un Voyage fait aux terre du Brésil. A obra teve grande repercussão na Europa, obtendo várias edições a partir de 1578.
Em 10 de março de 1557, Bois-le-Comte, sobrinho de Villegagnon, chega à Guanabara para reforçar o contingente francês com marinheiros, operários e religiosos. Um ano depois, em 1558, Villegagnon, cansado de enfrentar tantas dificuldades, decide voltar para França.
Em 1558, colonos protestantes e calvinistas realizaram no Forte Coligny o primeiro culto nas Américas, com a celebração da Santa Ceia, conforme sua religião.
Nas ilustrações (1) e (2) desta narrativa, originárias da obra de Hans Staden, de 1595, vê-se a manifestação antropofágica de índias brasileiras. Na primeira (1), mulheres e crianças tomam mingau feito com as tripas de um prisioneiro sacrificado. Na segunda (2), mulheres pintam o rosto de um prisioneiro para sua execução. Por sua vez, a ilustração (3), mostra ainda existente, em 1813, o Forte de Villegagnon da Ilha de Serigipe, onde atualmente se localiza a Escola Naval.
Referências iconográficas:
(1)
Americae Tertia pars Memorabile Provinciae Brasiliae.
Hans Staden
Frankfurt, 1595
Acervo da Biblioteca Municipal Mario de Andrade, SP
(2)
Americae Tertia pars Memorabile Provinciae Brasiliae.
Hans Staden
Frankfurt, 1595
Acervo da Biblioteca Municipal Mario de Andrade, SP
(3)
Fort of Villegagnon in the harbour of Rio de Janeiro
Gravura, 1813
Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil