Por volta de 1640, a cidade, instalada no alto do Morro do Castelo, inicia a ocupação da várzea encharcada de pantanos e lagoas, existente entre os Morros do Castelo, de São Bento, da Conceição e de Santo Antônio. O núcleo urbano se expandiu lentamente entre os quatro morros, abrindo caminhos e promovendo aterros.
Em julho de 1639 é decidida a mudança da Casa de Câmara para a Várzea de Nossa Senhora do Ó, junto à Rua Direita. Nessa época, os carmelitas já estavam instalados na Ermida de Nossa Senhora do Ó com seu convento; os frades franciscanos já residiam nos Morros de Santo Antônio e da Conceição; os jesuítas e capuchinhos já se encontravam no Morro do Castelo; e os monges beneditinos já residiam e oravam no Morro de São Bento.
A primeira área urbana do Rio, compreendida entre os Morros Castelo, São Bento, Conceição e Santo Antônio, tinha a Rua Direita e o Largo do Carmo como principais logradouros. Além de charcos e pântanos, a várzea apresentava cinco lagoas: Boqueirão, atual Passeio Público; Santo Antônio, atual Largo da Carioca; Desterro, nas imediações das atuais Rua dos Inválidos e Avenida Mem de Sá, Pavuna, atual Largo de São Francisco; e Sentinela, próxima às atuais Avenidas Mem de Sá e Rua Frei Caneca.
Nas primeiras décadas do século XVII, delinearam-se os primeiros caminhos que, em meio a pântanos e lagoas, junto aos sopés das elevações ou ao longo das orlas, orientaram a expansão do núcleo original, definindo os primeiros e mais antigos vetores de crescimento da urbe. Das três ladeiras que desceram o Morro do Castelo à conquista da várzea, a primeira ladeira – a da Misericórdia – passando no sopé do Morro do Castelo, dirigiu-se ao Largo de Nossa Senhora do Ó, prolongando-se em caminho direto para o Morro de São Bento. Esse segmento, de capital importância durante a formação do tecido urbano da área central, primeiro se chamou Caminho Manuel de Brito, depois Rua Direita e, hoje, Rua Primeiro de Março.
Ortogonal à Rua Direita, iniciando-se nela e dirigindo-se para o interior, encontrava-se um dos mais antigos trajetos para as áreas de engenho: o caminho de Capoeiruçu, percurso equivalente à atual Rua da Alfândega. A segunda ladeira, a da Ajuda, antes denominado Poço do Porteiro, ia ligar-se ao caminho do Engenho dos Padres, depois chamado de Matacavalos, hoje equivalente à Rua do Riachuelo e ao de Capoeiruçu, nas imediações da Lagoa do Sentinela. A terceira ladeira – a do Castelo – por sua vez, ligava-se ao Largo de Nossa Senhora do Ó, através da Rua do Carmo.
O caminho da Carioca, contornando a Lagoa do Boqueirão e desenvolvendo-se ao longo da orla sul, ia à conquista das várzeas de Botafogo. Configuram-se, assim, os primeiros caminhos da cidade, onde o eixo Castelo – São Bento anunciava, desde já, sua forte participação.
Na imagem (1) que ilustra esta narrativa, datada de 1839, vê-se a Igreja de São Sebastião no alto do Morro do Castelo e, a esquerda, a torre sineira da Igreja do Colégio dos Jesuítas. Na imagem (2), encontram-se desenhados os primeiros caminhos que se formaram a partir do Morro do Castelo.
Referências iconográficas:
(1)
Igreja de St. Sebastião. Album Souvenirs du Rio de Janeiro
Johann Jacob Steinmann
Água-tinta e aquarela sobre papel, 1839
Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Brasil. Coleção Brasiliana / Fundação Estudar. Doação da Fundação Estudar, 2007
(2)
Cidade do Rio de Janeiro. ca.1640
RF Pereira
Desenho, 1989
Acervo particular