1750 – Convento de Santa Teresa

(1) Convento de Sta. Thereza. Pieter Godfred Bertichem.<br> Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil
(1) Convento de Sta. Thereza. Pieter Godfred Bertichem.
Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil
(2) Convento de Santa Teresa. Rui Alves Campelo<br> Acervo do Museu Histórico Nacional, IBRAM, Ministério da Cidadania, 2019
(2) Convento de Santa Teresa. Rui Alves Campelo
Acervo do Museu Histórico Nacional, IBRAM, Ministério da Cidadania, 2019

Em 24 de junho de1750, perante vistosa parada de tropas, é lançada a pedra fundamental do Convento de Santa Teresa – primeiro convento feminino de carmelitas descalças do Brasil. O convento, que deu seu nome ao bairro carioca que viria se formar muitos anos depois, foi construído no lugar da antiga Ermida do Desterro, erguida por Antônio Gomes do Desterro, em 1629.

O Governador Conde de Bobadela mandou construir o convento, sendo o projeto de seu dileto colaborador o Brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim. Irmã Jacinta Rodrigues Aires foi a fundadora e Madre Maria José de Jesus, que ingressou no convento em 1911, é a carmelita Serva de Deus, carioca, que se encontra em processo de beatificação e de canonização.

Austero e simples, marcado pelo contraste entre as paredes brancas de alvenaria e os cunhais de pedra, o conjunto formado pela Igreja e o Convento de Santa Teresa apresenta raras referências do século XVIII, como as grades de ferro fundido das janelas e os painéis de azulejos historiados da portaria. Trata-se de um monumento da arquitetura, da história e da religiosidade da cidade do Rio de Janeiro, de importância para o patrimônio cultural brasileiro.

Breve cronologia:

1620 – Por volta de 1620, um homem chamado Antônio Gomes do Desterro resolveu construir uma ermida em homenagem ao Mistério da Fuga da Sagrada Família para o Egito, a Ermida do Desterro. Segundo inscrição encontrada em uma lajota de pedra da construção original, as obras da ermida iniciaram em 5 de agosto de 1629. Sem prever os frutos de sua generosidade e fé, o devoto Antônio deixou ali as primeiras referências santas do lugar que, posteriormente, viria abrigar a construção do Convento de Santa Teresa – um lugar de orações e milagres.

1710 – Antes de invadir a cidade, vindo de Guaratiba, o francês Jean-François Duclerc tomou a Estrada de Matacavalos, atual Rua do Riachuelo, e subiu pelos matagais da encosta do morro até a Ermida do Desterro. Ali foi travado um combate e a ermida sofreu um princípio de incêndio.

1712 – Três Carmelitas Descalças, vindos da Bahia, instalam-se na ermida.

1715 – Em 15 de outubro de 1715, no dia de Santa Teresa, nasce no Rio de Janeiro a menina Jacinta Rodrigues Aires. Jacinta viria ser a fundadora do Convento de Santa Teresa.

1738 – A ermida serviu de residência provisória aos religiosos capuchinhos italianos “Barbonos” ou “Barbadinhos”. Nessa data, a ermida já se encontrava em precário estado de conservação, quase arruinada.

1742 – No início do mês de março de 1742, com 27 anos, convicta de sua vocação religiosa e com a ajuda da família, Jacinta adquire uma chácara junto à Estrada de Matacavalos, para a construção do primeiro convento de freiras da cidade do Rio de Janeiro.

1742 – Dois dias depois da Páscoa, em 27 de março de 1742, com uma imagem do Menino Deus, Jacinta foi assistir à missa na Ermida do Desterro e, depois, retirou-se, definitivamente, para a chácara que havia adquirido no princípio do mês – a Chácara da Bica. Em solidão e oração, conforme o modo de viver das Carmelitas Descalças, dessa data em diante Jacinta dedicou-se à construção da Capela do Menino Deus, vivendo em vida recolhida.

1743 – Em 31 de dezembro de 1743, é benta, segundo o ritual romano, a Capela do Menino de Deus, situada na própria chácara da Madre Jacinta. A construção contou com a ajuda de sua família e do Governador do Rio de Janeiro, Gomes Freire de Andrade, Conde de Bobadela, cujo governo se estendeu de 1733 a 1762. Consta que Madre Jacinta carregou sacos de pedra durante as obras.

1744 – No dia 1º de janeiro de 1744 é celebrada a primeira missa na Capela do Menino Deus.

1748 – Em 22 de outubro de 1748, Madre Jacinta e quatro religiosas recolhidas começam a rezar o Ofício Divino em coro, jamais interrompido.

1750 – Por solicitação de Madre Jacinta, Gomes Freire de Andrade resolve ajudar na construção do convento. Ele determina ao Brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim o projeto e a responsabilidade pelas obras. O governador, contudo, que na mesma época reconstruía o Aqueduto da Carioca, propôs a Madre Jacinta que o convento fosse erguido no lugar da antiga Ermida do Desterro. Com esplendor e perante vistosa parada de tropas, é lançada a pedra fundamental do Convento de Santa Teresa em 24 de maio de 1750. Muitos anos depois, o Morro do Desterro e o bairro que, ali, se formou, adquiriram o nome do Convento das Irmãs Carmelitas de Santa Teresa.

1751 – As carmelitas se transferem da chácara da Estrada de Matacavalos para o novo convento em 24 de junho de 1751. A fachada principal da antiga Ermida do Desterro, voltada para a entrada da Baía de Guanabara, é demolida. No fundo da antiga ermida o novo templo adquiriu três janelas fechadas com largas grades de ferro. Construídos no mesmo período do aqueduto, o Convento e a Igreja de Santa Teresa receberam parte da canalização do Rio Carioca sob seus alicerces.

1755 – Neste ano se dá a confirmação da fundação do Convento de Santa Teresa por beneplácito régio do Sumo Pontífice Benedicto XVI. Trata-se do primeiro Convento de Carmelitas Descalças do Brasil.

1763 – No dia 1º de janeiro de 1763, é sepultado no convento o Conde de Bobadela.

1768 – Em 2 de outubro de 1768, com 52 anos, falece Madre Jacinta. O convento já contava com 21 irmãs.

1911 – Em 10 de janeiro de 1911, ingressa no convento a boníssima Honorina de Abreu (18-02-1882/11-03-1959), carioca, filha do historiador Capistrano de Abreu, recebendo o nome religioso de Maria José de Jesus. Consagrou-se à vida religiosa prestando votos solenes em 25 de março de 1915. Foi sempre formadora, exercendo os ofícios de Mestre de Noviças e de Priora durante 27 anos. Ela escreveu vários livros de espiritualidade e poesia, traduzindo para o português as obras completas de Santa Teresa de Jesus. Considerada o “anjo” do Carmelo, ganhou fama de santidade que não parou de crescer após sua morte. Em 14 de novembro de 1989, o pedido de canonização foi oficialmente aceito pela Santa Sé, passando a ser chamada de Serva de Deus pela Igreja. Muitos devotos visitam seu túmulo na Igreja do convento, em reconhecimento pelas graças recebidas por sua intercessão.

1954 – No lugar das ruínas da antiga Capela do Menino Deus, atual Rua do Riachuelo, é inaugurada a Casa de São Vicente de Paulo e uma nova capela com uma réplica da imagem original do Menino Deus, primeira devoção de Madre Jacinta.


Referências iconográficas:

(1)
Convento de Sta. Thereza
O Brasil Pitoresco e monumental
Pieter Godfred Bertichem
Gravura, 1856
Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil

(2)
Convento de Santa Teresa
Rui Alves Campelo
Óleo sobre tela, 1946
Acervo do Museu Histórico Nacional, IBRAM, Ministério da Cidadania, 2019