Às quatro horas da tarde do dia 8 de março de 1808, a Família Real desembarcou no Rio de Janeiro. Vieram 56 embarcações trazendo toda Corte portuguesa, além do Tesouro Real, dos arquivos do governo e de várias bibliotecas. Logo que chegou, Dom João, muito católico, foi em procissão assistir à missa de Ação de Graças na antiga Sé – a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. A celebração religiosa foi preparada pelo Padre José Maurício Nunes Garcia, que imediatamente conquistou a simpatia do monarca, tornando-se mestre de capela da Sé.
O cortejo caminhou pelo centro da cidade colonial da atual Praça XV de Novembro, pela Rua Primeiro de Março, até o fim da Rua Rosário, onde se localizava provisoriamente a Sé. Padre José Maurício, que rezou a primeira missa para a Família Real, nascido junto à Rua da Vala, negro, filho de pais muito pobres, tornou-se o mais renomado compositor sacro do período real. Ele escreveu sua primeira obra ainda com 16 anos.
Há diversas estimativas do número de pessoas que vieram com Dom João para o Rio, variando de 500 a 11.000 indivíduos. Para acomodar tanta gente, muitas providências foram tomadas: para a Família Real, o Vice-Rei Conde dos Arcos desocupou, na atual Praça XV de Novembro, o antigo Paço dos Vice-Reis, mandou os frades carmelitas saírem do Convento do Carmo e esvaziou a Casa de Câmara e a Cadeia. Foram também adotados a Casa da Ópera, o Mosteiro de São Bento, o consistório da Igreja do Rosário, assim como diversos prédios públicos, quartéis e conventos. Além disso, cerca de 2.000 moradias foram requisitadas e para isso nas paredes externas dos imóveis era fixado o emblema “PR”, de “Príncipe Regente” que, para o povo, significava “Ponha-se na rua” ou “Prédio roubado”.
Acrescido inesperadamente em sua população, o Rio de Janeiro passou a abrigar em torno de 60 mil habitantes. Com a abertura dos portos e sendo a principal cidade do Brasil, qualificou-se, predominantemente, por todo século XIX e primeiros decênios do século XX, como uma cidade mercantil e, que não se esqueça, escravocrata também.
A pobreza dos meios de vida da colônia transformou-se perante as necessidades trazidas com corte e o intenso comércio de mercadorias estrangeiras. Uma nova cultura de requintes europeus introduziu-se no Rio e no Brasil. No antigo Largo do Carmo, atual Praça XV de Novembro, o Paço dos Vice-Reis passou a se chamar Paço Real. Dom João criou instituições e regulamentos que deram início à transformação da antiga colônia, à liberdade e ao desenvolvimento do Brasil.
Na imagem que ilustra esta citação, Dom João é recebido pelo Padre José Maurício Nunes Garcia, no átrio da Igreja de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos.
Referência iconográfica:
(1)
Chegada da Família Real Portuguesa ao Rio de Janeiro
Armando Martins Viana Óleo sobre tela Século XX
Acervo: Museu Histórico da Cidade do Rio de Janeiro