1874 – Plano de Melhoramentos

(1) Mappa Architectural da cidade do Rio de Janeiro<br> João da Rocha Fragoso. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional - Brasil
(1) Mappa Architectural da cidade do Rio de Janeiro.
João da Rocha Fragoso. Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil

No último quartel do século XIX, o centro da cidade reunia atividades comerciais manufatureiras, trapiches, estaleiros, pequenas indústrias artesanais de calçados, chapéus, vestimentas, bebidas e móveis, metalúrgicas leves, gráficas e fundições. Ali era o principal lugar de ofertar trabalho. Com grande número de serviços e tendo desvalorizada sua função residencial perante a migração das classes mais altas para os novos bairros que se formavam ao longo das linhas de bonde, a área central tornou-se lugar de habitações coletivas de baixa renda.

Os cortiços, as condições de insalubridade e as epidemias de Tifo e Febre Amarela, que incidiam na cidade desde 1850, geraram discursos higienistas e novas propostas para o centro da cidade. Por essa razão, são favorecidos os empreendimentos para a construção de habitações populares e, em 1874, é criada a Comissão de Melhoramentos da Cidade, que viria a desenvolver, depois das propostas do engenheiro Beaunepaire-Rohan, de 1834, o segundo plano urbanístico para o Rio de Janeiro.

Em 1874, o Ministro do Império, João Alfredo Correa de Oliveira, nomeou uma comissão para elaborar um Plano de Melhoramentos para a cidade, formada pelos engenheiros Francisco Pereira Passos, Jerônimo Rodrigues de Morais Jardim e Marcelino Ramos da Silva. Em 1875 e 1876 a comissão apresentou dois relatórios.

Nesse plano, a grande preocupação era a salubridade dos espaços urbanos e das moradias, diante das constantes epidemias que assolavam a população. As propostas propunham as mesmas intevenções do plano de Beaunepaire-Rohan, dentre os quais,  cita-se: o alargamento e a abertura de logradouros, a criação de novas praças, o prolongamento do Canal do Mangue até o mar, atravessando o Mangal de São Diogo, que deveria ser aterrado; a drenagem e o aterro das áreas alagadas; a ampliação das redes de esgoto e abastecimento de água, sendo essa última implementada na época.

Algumas propostas foram executadas, outras não. No entanto, esse plano deixou para a história da cidade do Rio de Janeiro um documento cartográfico de importância única: uma carta cadastral, dividida em várias pranchas e preservada pelo Arquivo Nacional. Excetuando-se a execução de algumas obras, o Plano da Comissão de Melhoramentos serviu para o Prefeito Pereira Passos, no governo de Rodrigues Alves, de 1902 a 1906, realizar as grandes obras urbanas que transformariam inteiramente a aparência da capital do Brasil.

No “Mappa Architectural” Cidade do Rio de Janeiro, primoroso desenho do centro da cidade, feito por João Rocha Fragoso, gravado em pedra por J.H. Aranha e impresso por Paulo Robin, em 1874, mostra a densidade de sobrados e as principais edificações da capital do império em todos os seus detalhes.

Sobrados com portas, janelas e sacadas, calçadas, praças, igrejas, casarões e palácios, iluminação pública e linhas de bonde, ancoradouros e escadarias – tudo devidamente registrado. O documento mostra a área principal do centro da cidade do Rio de Janeiro no final do século XIX. A paisagem urbana, no entanto, iria transformar-se inteiramente nas primeiras décadas do século XX. Sem saber, João da Rocha Fragoso representou em seu desenho um ciclo histórico que chegava ao fim.


Referência iconográfica:

(1)
Mappa Architectural da cidade do Rio de Janeiro
Reprodução parcial
João da Rocha Fragoso
1874
Acervo da Fundação Biblioteca Nacional – Brasil